Diversificação Alimentar, por onde começar?

Estamos a começar a introdução de novos alimentos cá por casa. Ainda há tão pouco tempo passei por esta fase com a mais velha e, menos de dois anos depois, volto a repetir o mesmo processo. Na altura li imensa coisa, pesquisei, frequentei cursos e palestras com profissionais de renome internacional. O eu nutricionista e eu mãe queriam aprender mais e mais. Queria dar o melhor à minha filha. Hoje arrependo-me de não tomado notas ou feito publicações no blog com a síntese de tudo o que tinha apurado [quando se é mãe acontecem estas coisas…. não se tem tempo para tudo o que se quer].

Desta vez voltei a ler e a estudar tudo o que estava ao meu alcance, contudo não quero passar sem deixar aqui algumas notas importantes que vos possam ajudar a fazerem escolhas melhores e mais informadas, sem terem de ler todas as 140 páginas de recomendações da Direcção Geral da Saúde. O eu mãe quer escolher a melhor forma de alimentar o seu filho caçula e o eu nutricionista quer estar informada para ajudar quem me procura em consulta com dúvidas sobre os seus pequeninos.

Quem sabe, se algum dia me conseguir esquecer de todas estas noites mal dormidas, ainda venha rever as minhas próprias notas para as por novamente em prática!

A diversificação alimentar é um marco no desenvolvimento de uma criança e de toda a família. Uma altura onde surgem imensas dúvidas por parte dos pais e em que as opiniões divergem tanto, que acabamos por ficar baralhados sobre qual o melhor caminho a seguir.

A diversificação alimentar é caracterizada pela introdução progressiva de outros alimentos, para além obviamente do leite que alimentou a criança até à data, seja ele materno ou fórmula adaptada. Este irá reduzir gradualmente, dando lugar a novas refeições até chegar ao momento em que irá adoptar a dieta familiar, por volta de um ano de idade.

A introdução dos diferentes grupos alimentares tem como objetivo permitir o treino progressivo de texturas e paladares, é certo, mas também a avaliação de possíveis intolerâncias/alergias alimentares.

QUANDO INICIAR?

Segundo a ESPGHAN o inicio da diversificação alimentar deve existir entre as 17 e as 26 semanas, ou seja, entre os 4 meses e 1 semana e os 6 meses e 1 semana, dependendo de factores como o facto da criança estar ou não em amamentação exclusiva ou ainda do condicionamento da mãe no seu regresso ao trabalho.

Desta forma se existir uma criança com alimentação feita à base de leite materno em exclusivo, com um crescimento adequado e uma mãe com disponibilidade de tempo para manter essa mesma amamentação, então recomenda-se que a introdução de alimentos sólidos seja iniciada pelos 6 meses de idade. Caso algum destes não se verifique (alimentação por fórmula ou mista ou ainda indisponibilidade da mãe) então podemos antecipar a diversificação para os 4 meses e 1 semana. O ideal é discutirem a altura ideal para o vosso filho e para a vossa família, em conjunto com o vosso pediatra.

A oferta alimentar durante o primeiro ano de vida estão na base do desenvolvimento dos primeiros paladares, assim como da educação das futuras preferências alimentares dos vossos filhos. Podemos desde cedo moldar comportamentos e hábitos que vão ter impacto a longo prazo na sua saúde para a vida (programação comportamental e metabólica).

A escolha deve ser baseada na variedade e na qualidade. Não devem ser oferecidos alimentos processados como bolachas ou snacks, nem alimentos com adição de açúcar (como sumos, sobremesas, bolos, doces) nem sal adicionado ou presente nos alimentos (como nos enchidos ou charcutaria). Na verdade, segundo as últimas recomendações o sal e o açúcar estão proibidos durante todo o primeiro ano de vida, sendo desaconselhado a sua utilização na confecção de alimentos durante a diversificação alimentar. Pessoalmente quanto mais tarde aparecerem melhor, sobretudo no que toca aos processados e aos açúcares adicionados.

COMO ORGANIZAR?

Na boa das verdades não existe nenhuma regra definida relativamente à sequência da introdução dos diferentes grupos de alimentos ou dos alimentos em particular a serem introduzidos. Deve ser ajustado às características individuais da criança, da sua família e levando em consideração aspetos culturais.

Foi precisamente o reconhecimento de diferentes práticas que levou a ESPGHAN a assumir a dificuldade em estabelecer regras ou propor consensos, preferindo adotar uma atitude liberal em que uma criança saudável (independentemente de ter antecedentes familiares de alergia) pode introduzir todos os alimentos a partir da diversificação alimentar com  excepção do sal, açúcar, mel, bebidas açucaradas e chás (inclusivamente os de funcho). Para além destes, o leite de vaca, como fonte láctea principal, deve ser também ser evitado até aos 12 meses.

POR ONDE COMEÇAR?

Os primeiros alimentos a serem oferecidos a uma criança no início da sua diversificação alimentar devem ser os hortofrutículas ou os cereais, ou seja os legumes, a fruta ou a papa, respeitando sempre um intervalo de 2 a 3 dias para a introdução de um ingrediente novo, por forma a verificar eventual reação adversa à entrada de um novo alimento.

Apesar não estar estabelecida nenhuma recomendação sobre qual deve vir primeiro, dependendo do desenvolvimento e do percentil da criança, em regra recomendo iniciar-se pelas sopas (ou legumes) e não pelas papas. Ao oferecermos hortícolas como primeiro alimento, estamos a treinar o paladar da criança para alimentos não doces e não lácteos, para além disso estamos a oferecer uma importante fonte de vitaminas, minerais e ainda de fibra alimentar, interessante na prevenção dos níveis preocupantes de obesidade infantil em Portugal e na reformo de micronutrientes.

Contudo, devido ao seu baixo valor calórico, a sopa pode não ser a melhor escolha se tivermos uma criança com baixo peso. Neste caso deverá considerar a papa como uma solução mais adequada. Como em tudo na nutrição, tudo é relativo e deve ser sempre individualizado. Por isso mesmo recomendo sempre que falem com o vosso pediatra ou nutricionista, esclareçam as vossas dúvidas e em conjunto decidam qual a melhor forma de iniciarem a diversificação dos vossos filhos.

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