Será a Tapioca assim tão perfeita?

Pois é… se pensarmos que há um ano a maior parte das pessoas não sabia sequer o que era tapioca em Portugal… hoje virou moda e não há dia que não passe no instagram e não veja uma foto da“dita”! Então depois da abertura da tapiocaria da maravilhosa Rita Pereira nas amoreiras, em Lisboa, toda a gente quis experimentar. Se ela gosta então só pode ser deliciosamente glamouroso! E (cá entre nós) quem não gostava de ter um corpinho da Rita Pereira???!!!

Como nutricionista e apaixonada por comida, por novos sabores e ingredientes já fazia tempo que me tinha inspirado no nosso país irmão e que várias foram as  tentativas de receitas saudáveis de polvilho, tapioca, crepioca e outras invenções (essas menos bem sucedidas). Aliás já prescrevia em consulta como alternativa pré e pós treino ou em substituição do pão ao pequeno almoço.

 

Se pesquisarmos a palavra “tapioca” no Google aparecerão vários artigos que associam o ingrediente a uma dieta super saudável, diretamente relacionadas com perdas de peso fantásticas e sem dúvida que nos remete para a alimentação das celebridades, uma vez que virou a queridinha dos famoso… enfim, como não podia deixar de se esperar, mais cedo ou mais tarde a tapioca viraria moda também em Portugal e esse dia chegou.

 

A tapioca ganha sem dúvida aos pontos pela sua versatilidade, pela fácil digestão, pelo facto de não conter aditivos, sódio, gordura ou glúten e não necessitar da adição de qualquer tipo de óleo para a sua preparação.

Ela é uma excelente alternativa para celíacos, intolerantes não celíacos ao glúten ou pessoas que pretendem enveredar por uma alimentação mais anti-inflamatória, mas a tapioca não ajuda necessariamente na redução de gordura corporal. É preciso saber como a utilizar caso contrário será pior a emenda que o soneto.

Devido ao seu sabor ténue e ao seu cheiro neutro, para conseguir um resultado final saboroso é fundamental haver uma escolha interessante de recheio, sendo que o valor nutricional da receita final vai obviamente depender dos ingredientes escolhidos. Uma tapioca de nutella, gelado e chantilly não será certamente a forma mais saudável de apresentar este alimento dito “milagroso”, quando comparado com uma tapioca de ovo mexido, tomate e orégãos, CERTO???

 

A tapioca é extraída da goma de mandioca, uma raiz amilácea muito utilizada como base de alimentação no Brasil.

Conseguimos preparar tapioca a partir do polvilho doce (fécula de mandioca não fermentada) que hidratamos em casa, mas a verdade é que para nos facilitar a vida já conseguimos encontrar goma de tapioca hidratada pronta a utilizar.

 

Mas, se pensarmos bem então o polvilho da mandioca é constituído por AMIDO e o amido é um hidrato de carbono. Neste caso em particular isento de fibra alimentar e como tal apresenta um índice glicémico demasiado elevado.

 

Relembrando de forma rápida: ao contrário do que se passa com os alimentos de baixo índice glicémico (como a batata doce), que possuem uma absorção mais lenta, fornecendo energia contínua e uma elevação mais estável e lenta do açúcar no sangue, um alimento de alto índice glicémico (como a tapioca ou as farinhas refinadas) possui uma libertação rápida, estimulando a função do pâncreas e a libertação de insulina no sangue afim de controlar os níveis de açúcar. Quanto mais alto o índice glicémico de um alimento mais exagerada será a resposta do pâncreas e uma hiperinsulinémia para além de conduzir a uma falta de energia (relacionada com a hipoglicemia consequente), aumenta o apetite ao longo do dia, especialmente por doces e hidratos de carbono simples, para além de favorecer a deposição de gordura periférica.

 

Então tapioca afinal não é um bom alimento?

Não precisamos exagerar… É na verdade uma boa fonte de hidrato de carbono, sem conservantes, corantes, de fácil digestão e o mais importante: por não conter glúten é uma excelente alternativa para pessoas com intolerância ao glúten e celíacos. A tapioca é fácil de preparar e pode ser uma boa opção para o pequeno almoço alternativo ou lanches pré e pós-treino.

Uma dica estratégica para conseguir controlar o índice glicémico da tapioca é recheá-la com alimentos fonte de proteínas, gorduras saudáveis e fibras ou associá-la a farinha de linhaça ou chia antes de colocar na frigideira. Desta forma o esvaziamento gástrico ficará mais lento e o pico insulinémico muito menor.

 

Se nunca provou vale a pena… Se já experimentou e gosta, então não precisa de deixar de comer tapioca!

Conclusão da história a tapioca não é o segredo da perda de peso, mas também não precisa ser diabolizada…. é uma ótima sugestão a incluir numa alimentação saudável desde que seja preparada de forma inteligente, consumida com moderação e às horas certas. Por ser uma fonte de hidratos de carbono é uma boa opção para o inicio do dia ou antes do exercício físico.

Em breve falarei sobre a crepioca, uma alternativa muito interessante para o pós treino.

Comentários

  • Wagner Sarchis

    Excelente artigo. Claro, objetivo e que não traz inverdades. Como dito no texto a tapioca na verdade é uma base, ninguém consome ela pura, por isso há que se tomar cuidado com o recheio. O que não é diferente do próprio pão de sal, que a tapioca pretende substituir. O pão de sal aceita qualquer recheio, de ricota a bacon, portanto, de novo, o cuidado tem que existir. Não existe alimento milagroso, e o bom senso é primordial quando você vai escolher o que comer e como comer. Parabéns pelo artigo!

  • Marta

    Em relação à adição de chia à tapioca, como sugere que se faça? Em seco tal como a tapioca ou não deveria antes ser hidratada?

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